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Você é movido por amor ou por medo?

  • victoriasolare0
  • 17 de out. de 2024
  • 5 min de leitura



Há algo que une artistas e empreendedores de alta performance, aqueles que constroem coisas belas e relevantes para o mundo: uma força interna inquebrável. Eles estão sempre em movimento, evoluindo, buscando se desenvolver sem nunca parar no tempo. No entanto, a força que os impulsiona pode ser atribuída a duas fontes principais: o amor e o medo.


A primeira, o amor incondicional que receberam de suas famílias, e a autoconfiança construída em seus lares, a convicção de que podem se tornar e criar o que desejarem. A segunda, o medo, nasce a partir do trauma, de uma juventude marcada por conflitos e desafios, que os impulsiona a mudar a realidade em que nasceram. São essas as duas forças que dirigem ou arrastam o indivįduo ao sucesso.¹


Por outro lado, sujeitos medianos receberam uma educação que não foi significativamente encorajadora nem traumática. Eles não sentem, naturalmente, o desejo de criar grandes mudanças em si mesmos ou no mundo. Veja bem, ser mediano não implica, necessariamente, uma condição indesejável; muitos levam vidas felizes e equilibradas, sem grandes conflitos e catástrofes. Uma porção equilibrada de amor e medo pode produzir sujeitos funcionais, produtivos e conformados.


Apesar de o trauma ser capaz de produzir uma força que impulsiona o crescimento, é evidente que essa força nem sempre é construtiva. Aqueles que possuem os padrões de comportamento mais destrutivos, comumente tiveram infâncias duras, que os levam a forjar uma vida de dor e frustração, dando continuidade à realidade na qual foram inseridos. O excesso de medo pode transformar pessoas em armas munidas de autossabotagem e destrutividade.


Agora, pense naqueles que tiveram uma infância confortável, com apoio familiar, mas que, ao chegarem à vida adulta, encontram-se sem rumo, desmotivados e incapazes de se adaptar ao sistema e estabelecer relações saudáveis. Mesmo imersos em abundantes oportunidades, acabam paralisados, sem conseguir avançar ou realizar algo significativo. O que muitas vezes conecta essas experiências é o excesso de conforto.


Quando todas as necessidades são atendidas sem esforço ou trabalho, o sujeito não desenvolve um incentivo forte o suficiente para sair da zona de conforto. Isso pode acontecer até em lares repletos de amor e compreensão. Porque o amor, sozinho, não constrói força ou resiliência. Famílias que, por amor, evitam que seus filhos errem ou enfrentem as consequências de seus próprios atos acabam comprometendo a autoestima deles. Aqueles que crescem em um ambiente onde terceiros solucionam seus desafios tornam-se adultos que acreditam ser incapazes de agir de forma independente.


Pais amorosos e firmes criam crianças confiantes e resilientes. Já pais amorosos, mas permissivos, criam crianças inseguras. E pais firmes e hostis criam crianças ansiosas. O excesso de permissividade e hostilidade produz aqueles adultos que mais sofrem. Isso mostra que crianças precisam de limites; é a partir da disciplina que constroem a força para se tornarem independentes e livres de comportamentos impulsivos.² É justamente por isso que referências sólidas e ricas em sabedoria são, aos meus olhos, o maior de todos os privilégios.


O que torna possível que criadores de alta performance alcancem seus resultados, tanto aqueles oriundos de um contexto familiar encorajador quanto os que vieram de cenários traumáticos, é a ambição, combinada com uma força interna derivada da resiliência mental. Esta resiliência pode ser fruto da disciplina forjada em um ambiente familiar empoderador ou dos embates e resoluções complexas que surgem em uma dinâmica familiar disfuncional.


São capazes de criar, conquistar e assumir posições de poder. Mas o que os diferencia? Exatamente o tema deste texto: são movidos por amor ou por medo?


Ser movido por amor é amar o que faz, desfrutar o processo de construção da própria trajetória, ser guiado por um propósito claro, alimentado pelo amor por si mesmo e pelos outros, refletido no desejo de oferecer ao mundo algo de valor e de crescer sustentado pelo profundo amor que se tem pela família e pelo mundo.


Quando o medo é a força motriz, o sucesso se transforma em uma tentativa de remediar o medo do abandono e do fracasso. O desejo de ser visto, reconhecido e apreciado se traduz em uma vingança silenciosa; provar, a cada passo, que aqueles que o subestimaram estavam errados. A insegurança se torna o alicerce do “sucesso”, crescer, construir e conquistar à sombra do medo.


E qual é o verdadeiro custo de ser movido pelo medo? Mesmo aqueles que são reconhecidos como vitoriosos relatam com frequência que, após conquistarem aquilo que uma vez chamaram de "sucesso", um vazio existencial os acompanha. O prazer proporcionado pelo status e pelas conquistas materiais é momentâneo. Somos altamente adaptáveis e não leva muito tempo até que o sujeito se habitue à nova realidade. A vida muda, sim, concretamente; as pessoas ao redor também mudam, e as oportunidades aumentam. Mas quem é movido pelo medo é capaz de perceber que sua realidade exterior mudou, mas, internamente, ele continua o mesmo. As conquistas movidas pelo medo alimentam somente o ego e o ego, longe de preencher o vazio, o aprofunda. A insegurança e o medo do abandono continuam vivos dentro de si, mesmo que agora em uma posição de poder.


É o propósito, o amor próprio, o amor pelo outro e o impacto positivo que causamos nas vidas ao nosso redor que são capazes de preencher a alma. Para apreciar o sucesso é preciso valorizar a jornada e encontrar gratidão no momento presente. Pois a felicidade não é um ponto de chegada; a conquista de um objetivo pessoal sem esse entendimento leva à desilusão. E isso perdura, até que aprendamos a reconhecer e valorizar aquilo que já temos.


Não, o vazio não precisa ser o destino de ninguém. Hoje, pessoas mudam suas vidas, hábitos, prioridades, carreiras e transformam seus relacionamentos a todo tempo. Vivemos numa era em que a reconstrução é mais acessível do que nunca, com tamanha abundância de informação; buscando boas referências, é possível construir a força motriz que preenche e sustenta: a força do amor.


O tempo avança, e a única verdade que perdura é a mudança. Nada é definitivo, nem preto no branco. Esses conceitos são complexos, cheios de camadas e contradições. Todos nós navegamos por sucessos, fracassos, mediocridade e estagnação em diferentes momentos e esferas da vida. Para ilustrar tais ideias, foi preciso simplificá-las. Seria limitador eleger uma só dentre tais definições como aquilo que descreve a jornada de um sujeito. Em sua volatilidade, somos todos movidos, em certa medida, por ambos, o amor e o medo.


Agora, cabe a você refletir: o que te move mais? O amor ou o medo? O propósito ou o ego? Seus valores ou suas inseguranças? Seus próprios desejos ou as expectativas alheias? Seja honesto consigo mesmo. Qual é a força motora que vive dentro de você? E, caso não goste de sua própria conclusão, não se preocupe: sempre há tempo para recalcular a rota.




Nota da autora:

Observei padrões em diferentes contextos sociais e dinâmicas familiares que repercurtem no que definimos como sucesso, fracasso, mediocridade e a tediosa estagnação. Também, através da autoanálise, identifiquei esses mesmos padrões em diferentes contextos da minha própria vida. Neste post, exploro as forças que nos movem ou nos paralisam. Essas ideias não são apenas minhas; me inspirei em estudos da minha pós-graduação em Psicanálise e Análise Contemporânea, assim como em autores, personalidades e conceitos da psicologia.



Referências:


Taleb, N. N. Antifrágil: Coisas Que Se Beneficiam Com o Caos (2012).


¹ A ideia de ser guiado ou arrastado em direção ao sucesso parte de uma conversa entre Steven Bartlett e Chris Williamson.


² O conceito de pais firmes, amorosos, permissivos ou hostis foi discutido por Dr. Daniel Amen no podcast "On Purpose" de Jay Shetty


Vale também destacar as contribuições de Carla Furtado e Tiago Febel, referências em discussões sobre felicidade e sucesso.




Victória Solare


 
 
 

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